terça-feira, 23 de julho de 2013

HOMENAGEM



O que vai e o que fica...

Minha mãe morreu. Mas ao invés de sentir todo o sofrimento que é normal numa hora dessas, eu estou feliz. Não que eu possa dizer que seja uma felicidade estampada por um sorriso de alegria. É uma felicidade diferente, como que sabendo que algo melhor está por vir e minha mãe sabe disso.

Minha mãe não suportou as dores da vida. Faleceu há poucos dias. Não suportou as separações e as perdas naturais. Morreu amargurada. Mas uma amargura diferente. Amargura por não demonstrar ou dizer mais do que queria. Dizer o quanto estava satisfeita pelo que tinha e o quanto amava seus próximos. Minha mãe não queria viver. Não agüentava mais as lamentações da vida. O desejo de ter o que não podia. A vontade de abraçar o mundo, de colocar debaixo da asa e proteger com a própria vida. Essa era a minha mãe. Que quis que o mundo todo fosse feliz, nem que isso lhe custasse à própria felicidade.

Mas, como disse, ao contrário do que muitos acham, eu estou feliz. Numa felicidade que é só minha e de mais ninguém. Que não carece de sorriso ou choro. Uma felicidade que me apresenta ao mundo, tal como o entendo. Uma felicidade que é interna e que me coloca em posição de usufruir mais do que tenho. E não é material; é de outro plano, que não dá pra explicar assim, nas palavras.

Eu estou feliz porque minha mãe fez tudo por mim. Tudo o quanto pôde fazer. Mais do que eu mereci ganhar ou ter. E ela não suportou mais fazer isso, da forma como fazia antes. Não havia nada mais a oferecer a mim. Quando precisei, recebi carinho, abraço, beijo, alegria, dinheiro, estudo, comida... Tudo o que ela pôde me dar. Até um emprego. Mas ela, cansada de tudo isso, descobriu que nada mais me era necessário. Descobriu que precisava olhar para a sua vida e começar a investir em si mesmo. E isso não lhe interessou tanto. Minha mãe queria dar-se, doar-se, entregar-se a alguém. Queria se perder nisso, sem que houvesse necessidade de olhar para dentro, porque isso lhe causava dor. Ela queria se perder em alguém e, com isso, foi-se desencontrando de si. Desencontrou-se tanto que não conseguiu encontrar-se de novo. Perdeu-se. E quando descobriu que não podia fazer mais nada por ninguém, seu objetivo acabou. Quando se deu conta, não suportou mais a dor da vida.

Enfim, eu estou feliz. Estou feliz porque ela me deu tudo! Garantiu-me cada momento de alegria e absorveu de mim cada instante de tristeza. Minha mãe foi e é o grande amor da minha vida! A mulher mais importante que nessa terra viveu e a pessoa mais importante que conheci!

E eu estou feliz... Sabe por quê?

Porque não sou religioso, mas sei que as coisas começaram a dar certo. Que a cada dia uma nova oportunidade bate a minha porta e eu preciso me preparar para recebê-la. Que a cada momento algo novo se realiza. Também porque sei que sigo pelo caminho certo. Que estou no rumo certo e não tenho duvida. E, mesmo que não seja religioso, eu acredito... Não acaba por aqui o que a minha mãe fez por mim. É o começo. E as coisas começaram a dar certo e tem um dedo dela em cada coisa disso tudo!

Sabe quem me ensinou a pensar assim? Minha mãe.

Marcelo Horta

terça-feira, 9 de julho de 2013

NOTA DE ESCLARECIMENTO

Um blog que se propõe a contar causos, causos reais, sejam eles engraçados ou não!
Todas as postagens e causos são verdadeiros, escritos por mim, mas não exatamente vividos! São histórias de criança, de adolescência, fase adulta, e histórias contadas por outros, em que participei do debate! Histórias de amigos, de colegas de trabalho, de familiares, de conhecidos, de esquecidos, de relembrados... Trata-se talvez de uma homenagem em que tais histórias são contadas e compartilhadas por quem quer que seja! Um blog também se propõe a isso, a contar histórias e a torná-las públicas, preservando, é claro, a identidade de cada um! Quem sabe alguns, que não mais fazem parte de nosso ciclo, possam nos encontrar e dividir um momento conosco, reunindo a turma novamente, num mesmo principio... o de contar histórias um pro outro!

Por: Marcelo Mariano

PS.: qualquer pessoa que quiser colocar uma história em nosso blog é só enviar para o email: marceloluis@terra.com.br.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

DE CAMA COM... SAUDADE!



- Ai, ai, ai...

- O que a senhora está sentindo? – perguntou o médico.

- Saudade...

- Hã?! O que?! Mas o que foi que a senhora disse?

- Saudade do meu filho!

- Ele morreu?

- Não, que isso, doutor!

- Mas eu achei que a senhora estava sentindo algum desconforto físico, alguma dor...

- Aquele ingrato!

- Quem é ingrato?

- O meu filho!

- Mas por quê? Ele não te liga? Não te visita?

- Todos os dias!

- Então porque a senhora diz que ele é ingrato? Por acaso, ele mora longe?

- Não, doutor! Mora bem naquele prédio ali!

- A senhora tem outros filhos?

- Não, só um mesmo! Só um já é o bastante, né doutor!

- Então porque a senhora o chama de ingrato se a senhora mesma disse que ele te visita ou te liga todos os dias?

- E o pai dele ainda apóia! O senhor acredita nisso?

- Apóia o que?

- Essas visitas todas!

- Hã?! Mas e isso lá é errado? Um pai apoiar que o filho visite a mãe?

- Pro senhor ver o que a gente passa!

- Mas do que é que a senhora está falando?

- Ingrato...

- INGRATO?! O SEU FILHO?! Ingrato por cuidar bem da senhora? Por querer o seu bem?

- E me levar ao médico sempre que preciso!

- E isso lá é ingratidão, minha senhora?! Eu não estou entendendo qual é o seu problema! Por acaso, ele te faz algum mal? Agride? Insulta a senhora?

- Não! Que é isso, doutor? Está bem lá agora com a esposa dele!

- Ah, agora entendi! Tudo isso é ciúmes! A senhora está com ciúmes por que o seu filho saiu de casa, casou-se e foi morar em outra casa, com a esposa! Ciúmes por ele preferir viver com a esposa e não mais com a mãe!

- De forma alguma, doutor! Como pode pensar uma coisa dessas? Desejo a eles toda a felicidade do mundo!

- Pois, então...

- Acho até que eles vão ter filhos!

- Mas que noticia boa! Quer dizer então que a senhora vai ser vovó?

- Noticia muito boa!

- Mas isso deveria ser motivo de alegria para a senhora e não de tristeza!

- (...)

- Enfim, se a senhora está com saudades, porque não pega o telefone e liga pra ele?

- Agora?

- É! Agora!

- Precisa não, doutor, ele estava aqui agorinha mesmo, logo antes de o senhor chegar!

- Então, porque a senhora está com tanta saudade?

- Ele foi morar em outra cidade!

- Ah, ele se mudou! É isso, então? Já não mora mais aqui! Pertinho da senhora! Mudou-se para outra cidade!

- Tem cinco anos...

- Tem cinco anos que ele se mudou daqui pra outra cidade?

- Não, doutor! Tem cinco anos que ele voltou! Ele MOROU em outra cidade! Agora mora ali! Já falei pro senhor!

- MEU DEUS DO CÉU! MAS DO QUE ENTÃO A SENHORA ESTÁ RECLAMANDO TANTO?

- Ingrato...

- COMO INGRATO, MINHA SENHORA?! COMO INGRATO?! FOI A SENHORA MESMA QUEM DISSE QUE ELE TE VISITA OU TE LIGA TODOS OS DIAS, TE LEVA AO MÉDICO, MORA PERTO, CUIDA MUITO BEM DA SENHORA, VOCÊ GOSTA DA ESPOSA DELE, PENSAM EM TER FILHOS... COMO RAIOS ELE PODE SER TÃO INGRATO ASSIM?!

- (...)

- Vamos manter a calma nessa hora (respira fundo)! Veja bem, minha senhora! Se a senhora está com tanta saudade assim, me empresta o telefone, que eu mesmo vou ligar pra ele...

- Não, doutor, não precisa! Ele esteve aqui agora mesmo, eu já lhe disse...

- Olha, minha senhora, então eu não tenho como ajudá-la! Eu vou embora! Peça ao seu marido pra me ligar se alguma coisa acontecer com a senhora! Não posso ficar aqui tratando de saudade e deixar outros pacientes de lado, não é mesmo? Bem, aqui está o meu cartão! Qualquer coisa que acontecer com a senhora DE VERDADE, pode me ligar, está bem? Adeus, minha senhora! Desejo melhoras e passar bem! – foi embora.



- CLEIDEEE... CLEIDEEE...

- Oi, patroa, o que foi? Aconteceu alguma coisa? O doutor falou alguma coisa? A senhora está bem?

- Ingrato...

- Quem, patroa?

- Esse médico!



Por: Marcelo Mariano