Todos ainda riam da
história de José quando Pedro interrompeu:
- Muito boa, José! Eu
também tenho uma história engraçada pra contar!
- Mas você não pode
anunciar que a história é engraçada, meu caro! - disse João.
- E porque não?
- Porque nos obriga a
rir mesmo se for ruim! E se não rir, você fica ofendido. Acha que fizemos de
sacanagem.
- Mas essa história é
engraçada mesmo!
- Então somos obrigados
a rir? E se não for? E, além do mais, você não pode dizer que é engraçada. Quem
decide isso somos nós. Quando você fala que é engraçada, já lança em nós uma
ponta de alegria que pode diminuir caso não seja engraçada, entendeu?
- Não, mas ela é boa...
- Quem decide somos
nós! E se não for, não é pra fazer de vítima de novo, não, hein? Como sempre
faz.
- Nisso, o João tem
razão! Você sempre faz isso. Faz de vítima quando alguma coisa que você quer
que dê certo, não dá. E a gente tem que ficar te consolando - disse Eduardo -
Mas se quiser, conta!
- Tá bom, pessoal! Não
vou fazer mais isso. Vou contar. A história começa mais ou mesmo assim...
- Tá vendo?! Tá fazendo
de novo! - indagou João.
- Fazendo o que?
- Tá criando
expectativa, como antes, quando disse que a história é engraçada! Você não pode
dizer que é engraçada e não pode anunciar que vai contar. Uma coisa soa igual a
outra. Você tem que contar e pronto! Simplesmente contar.
- Tá certo!
Tomas chega no bar.
- FALAAA, Tom, meu
caro! Demorou, mas chegou numa boa hora - disse João se levantando - Saudade de
ti, cara!
- Pois é! Engarrafamento
sinistro. Cheio de polícia e blitz... Mas tá bom! O que tá pegando aqui?
- O Pedro vai contar
uma história en-gra-ça-da, diz ele - contrapõe Eduardo.
- Mais uma, Pedro! Mas
depois não vai se fazer de vitima, né? Igual da outra vez! Digo, se a piada não
for boa - afirma Tom.
- Tá vendo! Não
disse...
- Que é isso, gente?!
Até parece complô contra mim!
- Começou...
- Tá bom! Deixa pra lá!
Foi mal! Vou contar a história. Aconteceu comigo ontem. Tava eu, a Paty,
Afonsinho...
- DÁ UMA LICENÇINHA
AQUI, POR FAVOR: alguém pediu torresmo pra tira-gosto??? - anuncia o garçom com
a bandeja na mão.
- Pedimos sim, Manolo! É
daqui mesmo. Pode deixar aí.
- Tá com uma cara boa,
hein?
- Dessa vez o Osvaldo
caprichou.
- Caprichou mesmo! -
disse Tom - Mas conta aí, João, do que vocês estavam rindo quando cheguei? Vi
lá do carro!
- É uma história que o
José estava contando. Muito engraçada! Rsss... Conta de novo, José, pro Tom
escutar também.
- EI, EI, QUE É ISSO,
GENTE? - diz Pedro enfurecido - Até
parece que não querem que eu conte a minha história. Querem que eu vá embora,
pô?
- Ih, começou de novo!
- Vai fazer de vítima
de novo!
- Qualquer dia desses,
vai chorar aqui na mesa mesmo.
- Quer saber, vou
embora. Deixa pra outro dia. É que realmente não estou bem esses dias.
- Mais uma vez...
Vítima - assentiu Tom - Vai contar a história ou vai se fazer de vítima de
novo? Você veio falar dos seus problemas ou o que?
- Nossa, parece que não
posso falar nada!
- De novo!
- Olha, tchau! Outro
dia eu conto. Ou não também. Tanto faz!
- Meu Deus, até pra ir
embora!
E foi.
- Ei, João, o que será
que o Pedro ia contar? Será que era engraçada mesmo? Agora fiquei curioso -
disse Eduardo.
- É, também fiquei! Ele
deixou a gente na mão. Talvez fosse uma história em que ele foi vítima, mas levou
ferro! Essa sim seria uma história engraçada!
Todos ainda riam do
comentário de João.